Camaleónico inimigo, escapando como areia entre os dedos, horizonte inalcançável, furacão que arrasa tudo no seu caminho.
O tempo! Ninguém doma o tempo. Ninguém consegue pará-lo, pô-lo dentro de uma caixa de madeira envernizada, brilhando como os nossos olhos iludidos com esta visão. Ninguém consegue sequer pedir-lhe que volte atrás porque isso está para além dele próprio.
Sim, porque não bastava que o tempo voltasse atrás. Mesmo que ele o fizesse, o chão não teria o mesmo cinzento, o céu não teria o mesmo azul e o brilho dos nossos olhos jamais seria o mesmo. Só o tempo seria igual, o mesmo ano, dia e até hora, mas mentalidades diferentes e emoções distintas, de quem vive algo pela segunda vez. Porque ninguém se surpreende duas vezes com o mesmo acontecimento.
Certamente, o tempo é oriundo das profundezas do Inferno. De outro modo, porque razão nunca é amigável, prestável? Afinal porque razão o presente passa tão rápido e o futuro nunca mais chega? Não é maquiavélico?
Mal acabo de proferir uma única palavra e esta já pertence ao passado, só para não me dar oportunidade de voltar atrás para a mudar, porque o passado não se altera.
Mas se temos um objectivo futuro, então sim, o presente dura e dura…
O tempo diverte-se ao “trocar-nos as voltas” e ri-se sádico da nossa confusão. Portanto, só temos duas alternativas: ou desistimos e deixamos que o tempo nos arraste, mefistofélico (porque o tempo não pára mesmo que nós o façamos), ou surfamo-lo sobre as ondas da vida, mesmo sendo o tempo quem direcciona a nossa prancha.
Sílvia Marôco
. O Tempo