Entrei. Não queria entrar. Era horrivel de novo. De novo aquele espaço era horrivel. Fizeram-me sentar. Não estou doente, não estava doente, apenas dormia. Não me façam ficar.
Estava aflito. Haviam indícios que me confirmavam a entrada. O sanitário estava ocupado, estava lá uma rapariga, com um chapéu, à espera não sei de quê e olhou-me inquisidora e cuidadosamente. Alertou-me para outra presença naquela casa-de-banho: a mãe dela. Saiu. Tive de correr para a cabina, explodindo, acudindo, a necessidade. Que horrores se sucederam, quais pavores me assolaram. Voava agora uma enorme criatura na minha direcção, saltando pelas cabinas. Como estava louca. Como me desespera. Beija-me. Adora-me. Era como a besta chavelhuda. Flamejei de nojo. A besta chafurdou-me em esterco, puro, dela. Nojo, que nojice...flamejava. Ela esfumou-se. E vejo tanto espaço enojado, tanta nojice num sítio calado. Fugi do nojo que vi. Corre, corre ele vem atrás de ti. Nojo que nojo está colado a ti.
Cheguei. Está lá o que vou limpar, reflectido. O nojo, aquele nojo. Limpei.
Entrava então no barulho da minha cabeça, aquele barulho lá dentro, na cabeça cheia de barulho. Ai! Os ouvidos expulsavam a maior infecção que tenho. Tem de sair, doendo. Sai sim. Cremosa e em contraste de cor. A doença do amarelo. Do que vive o vermelho. Escorreu e saíu. Saíu, saindo... por completo.
Suspirei, escrevendo. Fui ficando na sala escura. Sala de minha casa. Escura e fechada. Se me incandeia a luz que força a entrada! A rufar no espelho, a gritar no papel em que escrevo. Incandeia-me.
Olhava. Fui encontrado. Encontraram-me. Não me obrigaram a ficar.
Gonçalo Julião 24/04/07