Se eu fosse um gato deveras, teria a vida feita. Não teria de decidir se sorrio quando não quero, ou destoo dos demais e me aclamo –antipática– com quem não quero… que me importa? É só mais uma decisão… nunca tive problemas em verdadeira, sincera e muito menos em ser brusca, arisca, antipática, mas ouvir o revés começa a ser enfadonho, nauseante… decido sorrir. Deixem-me brincar com a vida! Talvez assim não repare que é ela quem brinca comigo…
Se eu fosse um gato deveras (quem me dera), dormiria, comeria, caçaria talvez, miaria nos telhados por entre a névoa nocturna, correria atrás de gatos/as instintivamente, afiaria as unhas nas árvores, marcaria território e vadiaria naturalmente, como um ser livre que cumpre à risca a vida de qualquer gato/a, sem se preocupar com a rotina que livremente escolheu, sem escolher, sem decidir…
Sem grandes saídas à minha condição humana… se eu decidir não decidir, para além de ser impossível, já estou a decidir.
Decido fumar um cigarro. Só tenho um… fumo ou guardo para amanhã? Fumo. Hoje preciso mais… se eu fosse um gato deveras, seria saudável…
Mais um dia… passa rápido, passa devagar, passa como eu quero! Passa rápido, muito rápido... acho que estou atrasada para alguma coisa lá na frente!
Mais um sorriso, um alegre, um seco… já gastei as opções que tinha…
Se eu fosse um gato deveras…
Chega de condicionais!
Sílvia