Sexta-feira, 4 de Maio de 2007

O Poema Do (Cão)

O Poema do (Cão)

”Os bons vi sempre passar
No Mundo grandes tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.”

Luís Vaz De Camões

Este Camões era tão mau malfeitor...
Mil graças, e graças mil ao Deus tão vil
Que alma tão boazinha e perspicaz, apagou!

Permitam-me que me introduza:

Cão, sou eu, o mentiroso, o cobarde e o cego ingrato.
Eu cão, que mordo na mão que me alimenta como quem morde com prazer.
Eu cão, disforme de rosto e grotesco de alma,
E ( mais que isto tudo )
Eu sou Cão, o que odeia tudo e todos e mais alguém ainda.

Porque sou eu assim? Perguntam vocês e fazem bem,
(Exercendo o vosso direito constitucional de liberdade de expressão)
Porque sou e ajo assim tão mal?
Aproximem-se que eu respondo...
Aproximem-se, sim! Aproximem-se!
Só mais um bocado, que eu não mordo:
Aproximem-se...
Cheguem-se que eu falo baixi-i-inho....

NÃO É NADA COM VOCÊS!

Ó donas de casa, ó vizinhas e as suas tias!
Quer tenham penduricalhos entre as pernas ou não! São coisas cuscas, vocês!
Liberdades, quais liberdades! Eu sou vil, tenho lá que vos ouvir e responder!
Ser mau é tão bom, tanto quanto ser bom deverá ser tão mau.
Sou vil, porco, desprezível e (insulto máximo)
Sou tão ou mais humano que a maior parte dos homens!
Vão vocês, seres de honra e de dignidade, vive-las e ás vossas vidinhas,
Que eu cá não tenho dignidade, não tenho honra e muito menos tenho vida!
E vivo a minha ausência de vida, com muito gosto!

Deixem-me, deixem-me! Se vos vir – mordo-vos!
Que fique eu azedo como o leite materno ( que nunca bebi ),
Que eu fique amargo como o café africano ( excremento líquido )
E que apodreça eu, Cão, como tanta carne que eu já comi!

Num Mundo em que eu, Cão, viva,
E que tanto mais eu tenha e terei mais que tantos outros
Que digamos, tão pouco têm, claro que eu sou vil! Claro como a noite!
Eu, que ando casmurro e amuado, sendo a minha visão sempre a destas patas minhas,
Eu, que, verdade seja dita, sou mais mentiroso que os filósofos e matemáticos,
Eu, que menosprezo, desprezo e ridicularizo tanto da ciência como do povo,
Eu, que ataco por trás e fujo pela frente como quem sabe que vai levar porrada,
Eu, que finjo não ser quem eu sou de tal maneira que nem sei se finjo aquilo que eu sou,
Eu, que nem vomitando e regurgitando e defecando exteriorizo toda a merda vulgar que há em mim me enjoo,
Sou eu, Cão, quem mais se ri e menos se importa com os outros e o Mundo!

Que Mundo é este, afinal? Se fosse mundo, eu cá não estaria!
Três vezes morra o Mundo! Morra! Morra! Morra!
Morra Cão, moribundo, e morra o Deus que o deixa viver!
Pois, se Cão é vil, mais vil ainda é o Deus que o consente... e com prazer!
música: The Sof Parade - The Doors
reflexo de turma 12º 12 às 15:58

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