Ninguém sabe. Mesmo ninguém, sabe que por vezes me encolho e choro. Ninguém chora à minha volta e não sabem que o faço, encolhido, escondido.
Ninguém mente à minha frente. Mentem por trás, mas não sabem que minto pela frente, e também por trás, quando me encolho e choro. Mentiroso. Mentiroso, sou porque assim sou. Não magoo, sofro mágoas, alvo de mentiras e inocentemente mentiroso. Ninguém ri. Ninguém ri como eu quando disfarço o soluçar do choro nem disfarça uma lágrima com uma máscara.
Ninguém odeia tanto ditados populares como eu. Odeio porque são adivinhos. Mentira, perna curta. O que é? Minto. Sou, fui descoberto.
Não têm de gostar mim nunca mais. Agora choro à vontade, borro o sorriso pintado, desidratado; lavo-me; limpo-me; crio-me; espreguiço-me e acordo.
Aprender a chorar. Isso! Sim! Aprender a chorar e conseguindo rir.
Ninguém é agora mentiroso, impiedoso, por confessar que aprende a rir… a chorar.
Maio, 2006.
Gonçalo Julião.
. EU