Sinto o impasse, a terra vibra debaixo dos meus pés. O vento sopra lentamente, deixando rastos de pó a oscilarem na baixa superfície do chão. Os deuses lançaram as últimas profecias. A viagem chegou ao fim. Até que enfim.
Caminho em direcção a nada, o meu horizonte são as torres que se levantam até ao céu, perfurando as leves nuvens imaginárias. Ao longo do trilho que vou traçando, os meus passos deixam marcas distintas, mas perecíveis. Sempre foi assim, não foi? Penso ter fabricado algo útil e implentado ideias concretas e fortes no outro mundo. Não obstante a sua influência, acabam sempre por desaparecer. Por perecer. Como tudo no outro mundo.
Deixei tudo para trás ou tudo é que se apagou atrás de mim? Não vejo razão para voltar, pois não tenho sítio para onde ir. Nada existe mais. A paz que se sente aqui não é humana e talvez por isso seja paz. Nunca conheci harmonia enquanto humano. Frequentemente a busquei, tendo falhado nas minhas tentativas. Não me arrependo dessa busca porque ela levou-me até aqui. Embora desconheça onde estou, sinto que este é o lugar onde devo estar. Não existem contradições, não existem dúvidas. Não existe vida.
Páro. Uma força estranha bloqueia todos os meus movimentos. Os grãos de areia levantam-se do chão e formam uma corrente circular à minha volta, sendo eu o centro. Uma cortina de pensamentos cai sobre mim, conduzindo-me pelas memórias da vida que foi e que tive e sugando-as uma a uma, até que toda a minha consciência sucumbe. Volto ao estado mais elementar: a alma.
Não me lembro de nenhum ínfimo pormenor do que fui. Também não sei o que serei. Continuo o meu caminho enquando formas e contornos me atravessam os lados, transmitindo-me mensagens de esperança.
Cheguei ao meu horizonte, as torres são mais altas e sumptuosas do que imaginava. Das janelas semelhantes, libertam-se espíritos de todos os géneros e de todos os tipos. Brevemente serei um deles.
Os portões abrem-se e escutam-se vozes dissimuladas que se cruzam entre si.
“Partiste tempo a mais à descoberta da Humanidade. Viste coisas belas, mas também demasiado cruéis. Vemos que voltaste aonde melhor pertences. Damos-te de novo as boas-vindas ao teu lugar de origem: o Desconhecido.”
César Luís Aca
(A.K.A. Dani-ela)
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