Bien-sur, saio de casa e deparo-me com uma multidão. É certo que há quem não tenha moral para sair de casa, quanto mais se enfiar numa multidão, por ser vulnerável, mas o ser humano é um ser que vive para a confissão, para a vergonha, para a mesquinhez, logo saio e desabafo: “Fui eu que o matei! E volto a fazer se não me saírem da frente, ó seus porcos!” Fosse possível saber porquê mas afastam-se todos. Quer dizer, dão dois passos para trás e esperam que eu deixe todos os pormenores sórdidos do meu pecado num testemunho assinado contudo não tenho paciência, estando ela enferrujada, há algum tempo que o ser humano deixou de fazer alongamentos de paciência, algo que lhe fez mal, é bom notar.
Fujo-me da multidão e agora sim, vejo o céu, vejo o sol, vejo as árvores, vejo os passarinhos, vejo-os a cantarem canções, vejo-os felizes e é amor, é primavera, é todas essas coisas enquanto os passarinhos regurgitam as senhoras donas minhocas e presenteiam aos filhos um bom pequeno almoço, pelo menos aos que não foram transformados em ovo estrelado aquando da sua cela quebradiça. Os semáforos já estão longe, agora encontro-me ao pé da nova biblioteca da Amadora, olvido o nome, é o que acontece quando se dá nomes de pessoas às coisas, para erudição mais valia escreverem logo em latim e aí é que as pessoas não iriam perceber mesmo nada para além das semelhanças parentescas. Fosse um nome como “Tu és um suíno” as pessoas dificilmente o iriam esquecer, se bem que pudessem tomar mais atenção ao nome do que à biblioteca. Se bem que, se todas as bibliotecas tivessem verborreia verbal como nome, pouca diferença faria pois se esqueceriam tal como nos esquecemos agora das que têm nomes eruditos. Bem já chegam de nomes, que sem eles, as bibliotecas não existem, pronto, esta parou de existir, voltou a ser o parque de estacionamento que era antes.
“O meu filho já pensou como Deus o poderia ajudar no planeamento familiar Está a pensar ter filhos?” Ora minha senhora, tomara ele que ninguém os tivesse e não estaríamos a ter esta ridícula conversa.
“Aí, sócio, tens cinquenta cêntimos?” Não, só cinquenta euros, tens troco para tal? “Ya, ya, passa aí”. Efectuamos a transacção e fico eu cinquenta cêntimos mais pobre e ele cinquenta cêntimos mais rico.
Passo pela Escola Secundária da Amadora. Outrora isto foi um jardim mouro cheio de amendoeiras, foragido do Algarve, agora é um esgoto séptico repleto das mais venéreas doenças ambulantes, cada mutilação à humanidade que aqui anda mais horripilante que a outra. E isto falando só dos de décimo, nem me ponham a falar da hipocrisia dos velhos. Pois bem, porque aqui vim, não faço ideia, digo vim como quem diz não vim visto que ainda me encontro em casa, já não a reflectir em latim mas como me pus a reflectir em isto tudo e lá se perdeu mais um pouco do “Illo tempore” com estes pequenos apartes mentais, perde-se conhecimento, ganha-se o momento, tudo isto no meu quarto às oito e quarenta de uma manhã de sábado de Março, o céu amarelo e azul como num quadro que foi pintado hoje por algum ser celeste. Celeste, que palavra tão bonita…
João
. 091009
. Tempo
. K.O.ALA
. (...)
. Onanismo
. Sinos tocam no horizonte ...
. Origem
. Onanismo
. Reflexos... pensamentos, ...
. Descrições de Uma Planaçã...
. A Título