Domingo, 20 de Abril de 2008

Aparências e Eclipses

 

Estala o verniz que unificava a madeira,

Armas são dadas na trincheira,

O advogado distorce o réu em tribunal,

Toda a desarmonia sentida, agora é real.

 

A madeira começa a fretar,

Na trincheira o objectivo é matar,

O réu inocente é declarado culpado

E a culpa é da natureza do soldado.

 

Soldados sem causa nem dever

Em que a arrogância sobe ao poder.

A guerra não é deles mas as mutilações são

E continuam a matar por auto-obrigação.

 

Ser humano é ter instinto e linguagem,

Usar palavras como dentes o selvagem

E por aí pintar-se, triunfante, de civilizado

Mas quebrando-se a si, assim, o ajuizado.

 

Silvie

 

reflexo de turma 12º 12 às 20:03

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Quarta-feira, 9 de Abril de 2008

salão

   por quem sois, sentai-vos perto de mim, à minha beira esquerda. aqui estou, um banquete Pascal, dominical. deixai-me ser intelectual das emoções. o intelecto pensando cora com a lavoura que lhe é reservada.

 

   o cortinado esvoaça e não me deixa avançar e puxo-o e ele rasga-se e escapo-me para a varanda abandonando o salão enfadonho rejeitando o ar fresco e seco da tarde que acaba agora e está tudo alaranjado. é um bloco de cimento vasto, maior que o gradeamento da varanda as minhas botas brilham nas escadas e firme estou com um leve sorriso de escárnio observando obcecadamente a porta do salão arqueada e tão lenta tão desnecessária enquanto cai em pedaços meu braço por estar rígido e a cara paralisada depois do último bafo e cinzas ainda ardendo caem alaranjadas nas botas reluzentes meu pavor e medo escalando as pernas joviais traçadas mas sem efeito, este meu pensar. só vê o perfil deste expressivo semblante velho e covado ardendo com o desafio e à parede rebocada encostado lembra um mural egípcio uma animação de perfil alaranjada muito perfeita.

   já muito tem danificado este corpo danado. estraga o que admira e o que lhe intriga o que ama por fim. nada tem conseguido saciar esta gula imponente e irracional. não tem havido festividade capaz de me dar sustento nem tanto alimento que preencha o guloso esquecimento.

   quer a cegueira sofrida apagar-se e largar-me e tenho eu de me dar à compreensão e tornar-me no então intelectual das emoções soltando o intelecto numa tarde alaranjada devorando os males e mau-estar os malefícios enfim.

 

23/03/08

-domingo (18:)

Gonçalo Julião.

música: i get out - lauryn hill
reflexo de turma 12º 12 às 13:00

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Segunda-feira, 7 de Abril de 2008

Erros

       O que fazer quando a nossa oportunidade já passou e não há como agarrá-la? Porque é que às vezes ficamos tão cegos ao ponto de não conseguirmos ver o que está à nossa volta? Porque é que só damos valor às coisas quando as perdemos e não quando as temos?
       O pior acontece quando abrimos os olhos e percebemos o quão estúpidos e egoístas fomos. Olhamos para trás e perguntamos a nós próprios o porquê de termos agido de tal forma e como fomos capazes de o fazer.
       Será que merecemos o perdão de quem magoamos? Será que temos direito a uma segunda oportunidade? E se nos for dada essa segunda oportunidade e mesmo assim nós continuarmos a cometer os mesmos erros e a tomar as mesmas más decisões? Teremos nós uma terceira oportunidade? Será que basta contar a verdade, pedir desculpa e continuarmos com a nossa vidinha medíocre? E quanto à nossa consciência que insiste em relembrar-nos do que fizemos ou do que dissemos? Podemos até estar arrependidos mas o arrependimento não faz com que possamos voltar atrás, apenas faz com que possamos corrigir alguns erros, se bem que há erros que não podem ser corrigidos.
        Então o que é que acontece? Perdemos amigos ou amantes. Mesmo que alguns nos perdoem, há-de existir sempre aquela barreira que nos impede de voltarmos a confiar em alguém e de voltarmos a ser quem éramos, pois há coisas que não voltam a ser o que outrora foram.
        Amamos, erramos, confiamos, traímos, perdemos, caímos e sofremos. Assim é a vida, repleta de amarguras, dilemas e obstáculos. O mais importante é aprendermos com os nossos erros. Estes podem ajudar-nos a crescer. Ou tornam-nos mais fortes e menos vulneráveis. Ou corajosos e não tão cobardes. Ou ensinam-nos a não fugir e a enfrentar as consequências.
        Quanto ao resto que perdemos ou deixámos ficar para trás, ou lutamos para trazer tudo o que conseguirmos de volta ou desistimos ou se não der para recuperar esses restos que sobraram seguimos em frente, decididos a esquecer o passado
, viver o presente e prepararmo-nos para o futuro.

                                                            

                                                                 Daniela Freitas

reflexo de turma 12º 12 às 09:36

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Sexta-feira, 4 de Abril de 2008

Traição

Que sono... Um sono sonolento que se apodera de mim, as palavras parecem-me vulgares e insignificantes... Mais uma vez, lavados de impurezas estão estes olhos meus. Olho para ela, a sua figura afoga-se nas minhas lágrimas, desfocada. Os seus cabelos brilham nas gotas de água que se retêm nos meus olhos, à espera de um impulso ou de um estímulo para escorrerem pela minha cara abaixo. Um impulso...     És sempre a mesma puta.     As palavras são proferidas com desprezo, invadidas por ódio. Je suis une pute – tu es une pute aussi,… pute.    Tinhas de o fazer, não tinhas ?    É uma pergunta retórica, ela já sabia a resposta. Faz um contorno estranho na mesa com a sua mão. Não percebo bem o movimento, as minhas lágrimas não mo permitem. Mas sim, sei que se mo permitissem, apaixonaria-me uma vez e outra e outra, vezes sem conta por esse seu gesto, aliás como me apaixono sempre por tudo o que ela faz. Não consigo conter este desejo que tenho por ela, o ardor que invade o meu corpo quando a olho e ela me seduz com os seus dedos no meu cabelo, nas minhas faces rosadas do calor, um beijo no meu pescoço, um toque no meu peito, nos meus seios, nas minhas costas, na minha cintura, um sopro leve no umbigo, um aperto forte nas pernas para depois me acariciar um pouco mais acima... Os seus dedos dançam ao longo do meu corpo, ela faz amor comigo e eu deixo, eu deixo... Ahhh...    Odeio-te.    This is more than enough, it’s painful. As minhas lágrimas secaram. Hoje é diferente.    Porque é que foste fazer algo que tu sabes que eu não ia gostar, an? Odeio-te por isso. Odeio-te tanto que me apetece violar-te até gemeres!    Ela sempre foi assim. Violenta. Agressiva. Cada vez que me aperta contra o corpo dela com uma força brutal, sinto o desespero dela em querer ser desejada, o medo por se encontrar desencontrada, o sufoco que é para essa rapariga não ter quem amá-la. Ela aperta-me até quase me esmagar os ossos e depois olho-me nos olhos... Je suis envie de toi. J’ai besoin de toi. Quero-te... Quero-te, quero-te, quero-te, ahh, quero-te, ah, ah, ah, ah, quero-te, QUERO-TE ! E assim, acabaria mais uma noite... Mas hoje é diferente.    Como foi possível tu fazeres-me uma coisa dessas? Logo tu! És a única que não podia fazer isso, a única! És uma PUTA!    Sou a única, a única que todos os dias a amou e ainda ama, a única que se serve de objecto sexual para ela, a única que não lhe podia falhar e, no entanto, falhei...    Falhaste-me!    Mais do que uma vez, mas disso ela não sabe... Num lance, atira-me um olhar furioso e incriminador, não sei o que se está a passar na cabeça dela, não me surge nenhuma ideia do que ela possivelmente possa estar a pensar, no minuto seguinte, as suas mãos fervorosas pousam nos meus ombros e, com toda a naturalidade, comprimem-nos corajosamente e, sem eu poder dar qualquer resposta, ela arremessa-me para o chão, bato com as costas na parede fria. Como uma energia que a come e a explora por dentro, ela aproxima-se de mim com passos lentos, mas determinados como quem sabe e não sabe o que quer. Ela está chateada. Haha, está mais do que chateada. Sorrio.    Qual é a piada? A última coisa que me apetece fazer agora é rir!    Hahahahaha...    Cala-te, sua puta!    Cada vez mais zangada... You amuse me.    Divertes-me, não te consigo explicar em como me sinto feliz com o que eu fiz, não me arrependo de nada. E, agora, sinto-me ainda mais feliz porque tu divertes-me, a sério! Foi só uma aventura e estás a fazer esta cena toda? Hahahaha, és tão parva... Hahaha...    Não lhe sei mostrar outra reacção, a verdade é que me sinto bem com isto tudo, a violência dela acalma-me, reconforta-me porque sei que esta é a forma dela me expressar o seu amor e eu saceio por tudo o que seja dela, qualquer indício, qualquer pormenor., qualquer atitude... Começo a rir-me com um riso malicioso e desprezível. Ponho-me de pé e dirijo-me para a cama e sento-me nela, ela segue-me com os seus olhos enlouquecidos. Sem pensar, levanto a minha mão direita e faço o gesto feio: mostro-lhe o dedo do meio. Volto a rir-me. Provoco-a. É única maneira...   Vai-te foder...    Agora sim, não há retorno. Ela vira-se para mim e caminha para a minha direcção. Desta vez, sei exactamente o que ela pensa e o que ela quer. Passa pela mesa redonda e pega na tesoura. Vem a meu encontro cada vez mais depressa, não há nada que a possa parar. Podia sair do sítio onde estava, fugir para evitar o que vinha, mas não quis, continuei quieta na cama. É agora ou nunca. É a única maneira. Faltam só oito passos, seis... Cinco, quase... Três...    AAAARGH!    Ela grita. Saltou para cima de mim. Aperta-me o pescoço como de uma selvagem se tratasse, não reajo...    DIZ ALGUMA COISA, REVOLTA-TE, BATE-ME, TORTURA-ME! Mas, por favor, por favor... Não te esqueças de mim...    Estou deitada, ela de joelhos, em cima de mim, os seus delicados dedos ainda à volta do meu pescoço, mas já sem pressão nenhuma.    Não consigo...    ARGH! ODEIO-TE!!    Ela baixa a sua cabeça. Vejo os seus cabelos brilhantes, mas não encontro a sua cara. Uma a uma, as suas lágrimas tocam-me as faces, caem como se fossem as suas últimas, uma a uma, ritmo balanceado e desconcertante, uma a uma... Os lençóis estão a ficar vermelhos.    Eu amo-te tanto... Porquê? Porque me fizeste isto?    A dor no meu estômago aumenta, sinto o meu interior contorcer-se todo, a tesoura está bem enterrada no meu corpo e ela geme. Ela geme, soluça, chora sem parar. Cada gemido equivale a mais um golpe em mim, no meu coração. Ela afasta as suas mãos da tesoura, esta continua onde está, sinto-a bem ali, descansa-as na minha cara, estão pintadas de um sangue mais vermelho do que aquele que escorre do meu corpo, olha-me... Perdem-me perdão, os seus olhos. Aproxima a sua cara da minha e violentamente, abre-me a boca com os seus lábios controladores e ela faz acontecer fenómeno, as nossas línguas envolvem-se, a sua pressiona a minha com toda a raiva que lhe é possível, a minha dá voltas na dela, tudo isto envolto na saliva que agora sabe a mel... É a única maneira, não havia outra. Só assim ela se podia vingar desse meu erro estúpido. Assim se vingou ela. Ficámos deitadas naquela cama, naquele momento, descansámos, até que eu fechei os olhos com o sono que me apoderava. Ela foi a última visão que tive. Não abri mais os meus olhos. Ela vingou-se. Amei-a com tudo o que pude.

 

 

 

Jean-Mathieu Cardoso


(A.K.A. Dani-ela)

reflexo de turma 12º 12 às 21:51

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