Choro. Não porque estou triste, mas porque aprendi que a vida é uma luta constante. É difícil vencer a luta que a vida é. A derrota causa dor, sofrimento, angústia. Como é doloroso aceitar o fracasso e assumir um erro! Lágrimas, um mesclado de loucura e lucidez, gritos de pânico, a aflição e o terror pregados em cada esquina e a força que desaparece na Noite gélida e cruel e uma tentativa absurda de agarrar a corda para escapar ao sufoco.
Rastejo. Sangro. Cada movimento dilacera as feridas do meu corpo.
Não consigo ver o caminho. Apenas sinto o cheiro a paz podre que me alimenta e consome toda a minha alma. Quero persistir mas sei que vou desistir. A pusilanimidade faz parte de mim. Sou fraca, medrosa e inútil. Por isso desiludo e estrago tudo aquilo em que toco. Não tenho armas de defesa nem de ataque.
Vasculho os restos indeléveis de esperança e prazer mas não consigo encontrá-los, pois o mundo é demasiado complexo e perverso para quem vive.
Quando acordo para a realidade brado aos céus e desespero. Nada é tão bom como viver na ilusão! Por isso voo até à mais alta planície com as minhas asas de fantasia e sonho acordada na expectativa de que todos os meus pesadelos morram.
Desfaço a minha vida em ritmos sucessivos. Deixo o meu corpo cair na estrada molhada como uma pedra largada. Entrego-me aos braços do vento que sopra intensamente.
Estou cansada de lutar.
É Inverno. Vou renascer do nada.
Daniela Freitas
"Alcança quem não cansa"
Aquilino Ribeiro: Meio milhar de pessoas assistiu à cerimónia de trasladação no Panteão Nacional
Lisboa, 19 Set (Lusa) - Cerca de 500 pessoas assistiram hoje à trasladação dos restos mortais do escritor Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional, em Lisboa, numa cerimónia pautada por discursos elogiosos à sua vida e obra.
"Aquilino fez da escrita um espelho do mundo e uma arma de intervenção. Foi (e é) exemplo de fidelidade à terra, de fidelidade à Língua Portuguesa, de fidelidade à República e à liberdade", disse António Valdemar, membro da classe de Letras da Academia das Ciências, no elogio fúnebre.
(...)No início da cerimónia, com a urna coberta com a bandeira nacional, colocada no centro do Panteão e ladeada com uma guarda de honra da GNR, ouviu-se o hino nacional e uma leitura de excertos de "O Malhadinhas", pelo actor Ruy de Carvalho, que provocou sorrisos na audiência.
Classificando-o como "um dos grandes prosadores da literatura portuguesa do século XX", o Presidente da República destacou a riqueza do universo de Aquilino Ribeiro, "povoado de tipos que todos conhecemos" e no qual "continuamos a encontrar o homem português a cada página".
"Ler Aquilino é ler um certo Portugal, mas é também ler o mundo", resumiu, manifestando a sua admiração por uma obra literária que espera que "continue a ser lida e acarinhada pelas gerações futuras do nosso país".
ANC.
Lusa/Fim, in JN Digital, 19 de Setembro de 2007
a prof
Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.
Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.
Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.
Miguel Torga
Quis responder ao desafio lançado pela altura das comemorações em nome do grande Miguel Torga, e aqui está! Embora venha um pouco atrasado!
Gonçalo Julião. 18/09/07
“EMILY”
Era uma vez uma rapariga. Esta rapariga não era como as outras meninas. Enquanto as outras brincavam com as suas bonecas e vestiam os seus vestidos cor-de-rosa e tomavam chá em chávenas vazias, Emily passara a sua infância escondida. Ouvia os pianos em vez das cantoras, punha batom nas bochechas em vez dos lábios, falava com os gatos e não com as outras meninas mas o que a mais separava de todas as outras meninas, é que Emily só tinha um nome. Emily. Nenhum apelido.
Agora, Emily encontrava-se nos seus vintes tardios e tinha uma profissão diferente das outras meninas. Enquanto elas eram cantoras e secretárias e governantas, Emily era escritora. O cabelo, castanho e caótico, pendia-lhe do crânio como um fado, para lhe tapar os óculos; o fumo proveniente das beatas, apagadas à pressa num cinzeiro carbonizado, transmitia um ambiente tenebroso ao seu quarto, apenas para ser quebrado pela madrugada.
Numa secretária à frente da janela, onde repousava a pena e o tinteiro, haviam sido escritos muitos contos no seu tempo. Os pianos da infância de Emily. Mas neste momento, a secretária era nada mais que um corpo cadavérico escrevinhado pelas gerações.
Emily levantou-se da sua cama, pousou a garrafa de Jack Daniels sobre o tampo da secretária e, dando uma baforada num Camel ou num Malboro, agarrou na pena e mergulhou-a no tinteiro. Começou a escrevinhar numa folha amarela e após ter lido e reflectido, risca o que acabara de escrever. Amarrotando o papel, atira-o contra o vidro e aos céus, na sua voz rouca, grita … um palavrão.
Emily era uma rapariga muito bonita.
Bebendo um pouco mais do seu elixir milagroso, observou o conjunto de folhas amarrotadas, papéis rasgados e pergaminhos sujos. Naqueles papéis, os versos narravam histórias de romance, de batalhas e pirataria.
Mas neste preciso momento, algo de inesperado está para acontecer. Os olhos de Emily divagam e assim começa – Uma ideia irrompe na sua cabeça: Quase que como num antigo relógio suíço posto a funcionar, as roldanas começam a rodar, os parafusos enterram-se na epiderme e os pêndulos começar a fazer aquilo que os pêndulos normalmente fazem. O movimento volta à sua pequena tola. As metáforas e hipérboles, já antigas, associam-se a novas ideias e começa a surgir um início. Umas frases feitas, uns estereótipos e clichés e ela tem meio. Agora só necessita de um fim e Emily, pela primeira vez, já sabe qual será:
“Era uma vez uma rapariga. Esta rapariga não era como as outras meninas. Enquanto as outras brincavam com as suas bonecas e vestiam os seus vestidos cor-de-rosa e tomavam chá em chávenas vazias, Emily passara a sua infância escondida. Ouvia os pianos em vez das cantoras, punha batom nas bochechas em vez dos lábios, falava com os gatos e não com as outras meninas mas o que a mais separava de todas as outras meninas, é que Emily só tinha um nome. Emily… “
João
Se eu fosse um gato deveras, teria a vida feita. Não teria de decidir se sorrio quando não quero, ou destoo dos demais e me aclamo –antipática– com quem não quero… que me importa? É só mais uma decisão… nunca tive problemas em verdadeira, sincera e muito menos em ser brusca, arisca, antipática, mas ouvir o revés começa a ser enfadonho, nauseante… decido sorrir. Deixem-me brincar com a vida! Talvez assim não repare que é ela quem brinca comigo…
Se eu fosse um gato deveras (quem me dera), dormiria, comeria, caçaria talvez, miaria nos telhados por entre a névoa nocturna, correria atrás de gatos/as instintivamente, afiaria as unhas nas árvores, marcaria território e vadiaria naturalmente, como um ser livre que cumpre à risca a vida de qualquer gato/a, sem se preocupar com a rotina que livremente escolheu, sem escolher, sem decidir…
Sem grandes saídas à minha condição humana… se eu decidir não decidir, para além de ser impossível, já estou a decidir.
Decido fumar um cigarro. Só tenho um… fumo ou guardo para amanhã? Fumo. Hoje preciso mais… se eu fosse um gato deveras, seria saudável…
Mais um dia… passa rápido, passa devagar, passa como eu quero! Passa rápido, muito rápido... acho que estou atrasada para alguma coisa lá na frente!
Mais um sorriso, um alegre, um seco… já gastei as opções que tinha…
Se eu fosse um gato deveras…
Chega de condicionais!
Sílvia
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