Entrei. Não queria entrar. Era horrivel de novo. De novo aquele espaço era horrivel. Fizeram-me sentar. Não estou doente, não estava doente, apenas dormia. Não me façam ficar.
Estava aflito. Haviam indícios que me confirmavam a entrada. O sanitário estava ocupado, estava lá uma rapariga, com um chapéu, à espera não sei de quê e olhou-me inquisidora e cuidadosamente. Alertou-me para outra presença naquela casa-de-banho: a mãe dela. Saiu. Tive de correr para a cabina, explodindo, acudindo, a necessidade. Que horrores se sucederam, quais pavores me assolaram. Voava agora uma enorme criatura na minha direcção, saltando pelas cabinas. Como estava louca. Como me desespera. Beija-me. Adora-me. Era como a besta chavelhuda. Flamejei de nojo. A besta chafurdou-me em esterco, puro, dela. Nojo, que nojice...flamejava. Ela esfumou-se. E vejo tanto espaço enojado, tanta nojice num sítio calado. Fugi do nojo que vi. Corre, corre ele vem atrás de ti. Nojo que nojo está colado a ti.
Cheguei. Está lá o que vou limpar, reflectido. O nojo, aquele nojo. Limpei.
Entrava então no barulho da minha cabeça, aquele barulho lá dentro, na cabeça cheia de barulho. Ai! Os ouvidos expulsavam a maior infecção que tenho. Tem de sair, doendo. Sai sim. Cremosa e em contraste de cor. A doença do amarelo. Do que vive o vermelho. Escorreu e saíu. Saíu, saindo... por completo.
Suspirei, escrevendo. Fui ficando na sala escura. Sala de minha casa. Escura e fechada. Se me incandeia a luz que força a entrada! A rufar no espelho, a gritar no papel em que escrevo. Incandeia-me.
Olhava. Fui encontrado. Encontraram-me. Não me obrigaram a ficar.
Gonçalo Julião 24/04/07
Hoje apetece-me embirrar contigo. Estou num daqueles dias em que me dá um imenso prazer fazer tudo ao contrário daquilo que me dizem, discordar da opinião e interesse gerais. É tão agradável ser advogada do diabo; como eu adoro esse papel, e tão bem que tu o sabes!
Às vezes penso em como seria maravilhoso que, de vez em quando, fosses algo evanescente... mas não!! Tu insistes em entrar na minha vida quando queres e bem te apetece, sem dar uma satisfação que seja! Teimas em girandolar-te por aí, convicto de que quem tu queres estará a apreciar-te. E enerva-me a forma como tu o consegues; e se queres eu bato palmas: viva o palhaço! Irrita-me o modo como obténs tudo o que anseias com o simples acto de te pavoneares o mais que podes diante dos olhos de toda a gente; irrita-me saber que eu já partilhei contigo esse teu irresistível vale pecaminoso onde se desenrola o teu mais agradável sonho: o mar de volúpia onde as portas se fecham, as luzes se apagam e dás início à tua mais profunda vontade, sem fronteiras intimidativas.
Assim és tu, o maldito vício que assoma à minha porta sorrateiramente. És a pessoa que menos merece as atenções que tens, contudo o meu vício de ti não passa... ao que parece o meu coração não te abandona e o meu corpo não te esquece, enquanto permaneces na tua intocável vaidade.
Eu desejava ver-te à margem de tudo isso, sem alguém para te satisfazer, sem um suporte para te advogar ... mas continuo nesta linha que teima incessantemente em não distorcer, uma recta irritantemente perfeita afasta gradualmente o seu terminal.
Tiveste tudo, nada deixei que te faltasse. Queres mais que isso? O teu enorme desplante evidencia-se na tua súplica do amor que não aproveitaste outrora. Da minha paixão, sobrou apenas a obsessão e vício que me provocas; não tenho mais nada para te dar. Esperas por sapatos de defunto! Mas hoje... apetece-me embirrar, apetece-me contrariar: e aqui estou, ao pé de ti.
Sempre fui só.
Houve
uma vez
em que não fui só.
Julguei-me
erroneamente
acompanhado.
Para não perder
esse outro,
fui-me tornando ele.
Afinal, era ilusão.
Estava só, comigo.
Agora, estou só, sem mim.
David João
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