É bonito ver daqui as colunas que nada suportam, que são da terra e do céu e de uma paleta de cores boreais, rodeadas de pessoas mudas e ilusões de anjos crináureos.
Mas mais acima vejo pessoas de pedra polida como carvão e envelhecidas pela caixa das memórias.
No alto, (onde) o cume é uma cúpula pincelada de cinzento inútil e negro passageiro, possivelmente o céu, mesclada pela porcelana pálida paradisiacamente ornamentada, com molhos de lírios onde se concentram as crenças, e o deus que cada ser, a critério, escolhe e venera.
Incrível a indestrutível categoria desta harmonia. Fulcro de jubilo, fulgur de êxtase.
Obstruo o jardim de correntes e respiro liberdade.
Para onde vou… procurar a emboscada do infinito.
Julho de 2006.
Gonçalo Julião.
Eu sou um homem do mundo. Sou um homem refinado. Sou um homem de pensamentos profundos e sou um homem educado. Educado pela Vida e pela Escola. Passaram-me várias coisas e deram-me a conhecer muitas mais. Mas há só uma questão a resolver e essa só posso ser eu a resolvê-la.
Eu tenho uma ideia. Uma ideia interessante sobre a qual eu penso muitas vezes e gostaria que reflectissem um pouco sobre a minha ideia. Reflectir sobre o significado da minha ideia. Mas antes de qualquer tipo de pensamento, é necessário clarificar os termos: qual o objecto com que nos deparamos, os nossos dados relativos a esse objecto, o problema que nos é colocado, e inúmeras mais perguntas... Adiantamo-nos e irreflectidamente colocamos a resposta: "Eu penso que..."; "Eu creio que..."; "Eu julgo que..." . Expressões comuns do nosso dia-a-dia, que só por si não têm nada de mal. Mas antes de resolver uma questão de qualquer tipo e resolvê-la sem pensar, há uma pergunta final a ser resolvida: quem é o "Eu"? Essa é a definição máxima. Podemos conhecer os países, os ácidos e químicos, os continentes, os minerais e sais, o mundo e tudo o que existe e ainda não nos conhecermos. Sem nos conhecermos, não podemos ter a certeza do que realmente conhecemos. Tudo o que nos foi ensinado e transmitido é fútil e superficial se não houver um "Eu". Como sabemos quem é esse tal "Eu"?
Só a questão "Quem sou eu?" é um pensamento que, apesar de abstracto, é o nosso único ponto de ligação à realidade. É através dessa pergunta que confirmamos a existência do "Eu": Eu tenho necessariamente de existir, para me questionar sobre quem sou. Algo que não exista não pode pôr em causa a sua existência. Agora, conhecer-me-ei?... Será que eu me conheço?....Ou melhor, o que sei eu de mim? Sei que sou muitas coisas para diversas pessoas: convencido, arrogante, palhaço, amigo, mentiroso, fiel, idiótico, etc. ... A mim não me interessa, pois não sei se essas pessoas existem. Só me interessa o que eu sou para mim, pois é a única coisa que eu sei que existe realmente: um "Eu". E quem eu sou para o meu eu? Quem é que eu sou realmente para mim próprio?
Este pensamento confirma a minha realidade. Enquanto eu o ruminar, ele confirma a minha existência. Mas e quando parar de pensar nele? Quando a minha mente se distrair por assuntos triviais, questões sensoriais, distorções exteriores e várias, irei desaparecer? Não. Ainda terei a recordação desse pensamento e terei sempre o poder de o reavivar... Através da memória.
Eu considero a minha pessoa divida em três partes: O meu futuro, o meu presente e o meu passado. O meu futuro é impossível de saber. Poderíamos fazer suposições ocas e fundamentá-las com teorias de valores cínicos e frios, calculistas e desprovidos de coração e que nunca se iriam consumar. O meu presente... Mais complicado. Considero o meu presente a pessoa quem eu fui no passado mais as situações com as quais me deparo no presente. Essa soma irá formar a pessoa que eu irei ser no futuro. Então, quem sou eu, no presente? Sou a mesma pessoa que era mas mais crescida. Possivelmente, crescida demais. Era muito provável que quem quer que seja que estivesse a fazer as tais previsões fosse o eu do presente. Por isso, hoje em dia não devo ser lá muito boa pessoa. Mas eu referi que parte de mim era quem eu já fui. Essa é uma questão interessante... Quem fui eu?
Eu fui as minhas acções. Eu fui os meus pensamentos. E eu sou as minhas memórias. Aí está quem eu sou verdadeiramente. A minha pessoa, o meu carácter e valores, as minhas acções e pensamentos, tudo isso é determinado pelas minhas memórias. Pelo que já aprendi e pelo que já vivi. As pessoas a quem eu conheci e o mundo que eu conheci. A minha pessoa é o reflexo da memória do que eu já aprendi. Porquê a memória e não a educação em si? Porque não interessa quão boa ou má ela foi, não interessa a qualidade (se existe) do nosso passado. Já passou. O que interessa é a memória com que nós ficamos dela, o que nós pensamos dela. Eu penso logo existo. Recordar o nosso passado é confirmar a sua existência. Afinal, a única coisa que existe verdadeiramente é o nosso pensamento. E sem ele, o nosso passado não existe nem nunca existiu.
Nós somos feitos de pensamentos e desses pensamentos alcançamos a realidade. E mais que tudo, nós pensamos no nosso passado. É através do nosso passado, por tudo aquilo que já passámos que iremos enfrentar e ultrapassar o trauma que é a vida. Um homem sem passado é um homem sem futuro, quiçá?...
E aqui, do telhado da Escola e da Vida vejo o meu lar lá ao fundo, rodeado de sombras e matizes. A cor de baunilha do céu é convidativa, cúmplice com o aroma a ... certamente, mas é um passado. O chão que piso é um passado. Tudo – Tudo o que existe - não existiria sem mim. Eu sou o centro do meu mundo e esse mundo que vejo através da minha ideia, da minha vida e educação é um mundo cheio de mistérios.
Ninguém sabe. Mesmo ninguém, sabe que por vezes me encolho e choro. Ninguém chora à minha volta e não sabem que o faço, encolhido, escondido.
Ninguém mente à minha frente. Mentem por trás, mas não sabem que minto pela frente, e também por trás, quando me encolho e choro. Mentiroso. Mentiroso, sou porque assim sou. Não magoo, sofro mágoas, alvo de mentiras e inocentemente mentiroso. Ninguém ri. Ninguém ri como eu quando disfarço o soluçar do choro nem disfarça uma lágrima com uma máscara.
Ninguém odeia tanto ditados populares como eu. Odeio porque são adivinhos. Mentira, perna curta. O que é? Minto. Sou, fui descoberto.
Não têm de gostar mim nunca mais. Agora choro à vontade, borro o sorriso pintado, desidratado; lavo-me; limpo-me; crio-me; espreguiço-me e acordo.
Aprender a chorar. Isso! Sim! Aprender a chorar e conseguindo rir.
Ninguém é agora mentiroso, impiedoso, por confessar que aprende a rir… a chorar.
Maio, 2006.
Gonçalo Julião.
Está uma noite tão fria...
Sinto todo o meu corpo a ser percorrido por um arrepio gélido
Que me atinge por fim a alma.
Enquanto caminho sem rumo por esta rua completamente deserta, Os meus pensamentos já então trancados dentro da minha cabeça
Voltam a soltar-se
E, num movimento inconstante,
Perturbam sem cessar a minha mente.
Que confusão!
Parece que me encontro num turbilhão!
Cada passo que vou dando é um pedaço de mim
Que se afoga sobre um mar revolto, cruel e impiedoso!
Bem tento lutar desesperadamente contra esta maré de dor,
Mas as ondas são mais fortes e acabam por vencer uma luta
Que muito dificilmente eu conseguiria ganhar.
Cheguei agora ao fim da rua,
E vejo-me a mim própria a ser confrontada com uma difícil decisão:
Deverei continuar a seguir em frente em direcção à próxima rua?
Ou agora que fui derrotada e a fraqueza se apoderou de mim
Deverei desistir e voltar atrás?
Não, não vou desistir,
Porque o pouco que me resta
Talvez ainda seja suficiente para encarar mais obstáculos.
Mesmo estando eu fraca,
Vou lutar para ter forças,
Pois quero vencer a próxima batalha.
Daniela Freitas
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