Domingo, 31 de Dezembro de 2006

E Ícaro caíu

- Viva!
- Sinto-me como o céu. Alma derramada, vivo acima de todas as almas, contemplam-me, mas nenhuma me visita...
- Sou solitário, sim.
- Mas, sobretudo, sou paranóico! sou triste, sou sozinho! Estou sempre no limite, vivo desgraçado e sou... sou o céu...sim.
- Sinto tudo frio e sinto-me frio. Poderia estar quente e aquecer, mas não posso responder nem agir por ninguém! Se o pudesse... E acordo sempre, lentamente, entre sonhos intermitentes.
- Adoro a minha manta. Sentado e, tapado no parapeito da janela, à mercê do sono que ali desposo, vêem a mim sonhos de cinzeleiro e pintor. O aroma a hortelã e mel pairam e acordo... e a manta dá-me asas e o chão fica longe... Hum!
- Egoísta... ter asas não é qualquer coisa que se partilhe. Elas conquistam-se, isso sim! Só aceito voar se levar alguém nelas protegido, nunca só. E o egoísmo nunca me foi pregado, não o sei!
- Cale-se!! Dê um passo atrás e pare com o inferno que está a atear em mim! Já!
- Não ouço nunca mais, não acordo nunca mais, porque nada tenho a ouvir e a admirar uma vez mais.
- Não consigo ignorar os meus traidores... nem acordado! Porquê?... oh... porquê?
- Porque o meu amor não foi suficiente para fomentar a vossa pena! Será? É isso? Ah, não... não!
- Quando está agora o céu rendilhado de chuva, tenho eu de estar radiante? Eu não sou o céu! E alguém me olha? Eu! Aqui!... olá?... não!... não...
- Sim, olá! Sou eu quem está debaixo da manta! Sim, estou bem, Suficientemente bem Olá!                             Gonçalo Julião, Nº3, 11º12

sinto-me: Inspirado
reflexo de turma 12º 12 às 18:51

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Terça-feira, 19 de Dezembro de 2006

Boas Festas

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.

Feio bicho, de resto:

Uma cara de burro sem cabresto

E duas grandes tranças.

A gente olhava, reparava e via

Que naquela figura não havia

Olhos de quem gosta de crianças.

 

E, na verdade, assim acontecia.

Porque um dia,

O malvado,

Só por ter o poder de quem é rei

Por não ter coração,

Sem mais nem menos,

Mandou matar quantos eram pequenos

Nas cidades e aldeias da nação.

 

Mas, por acaso ou milagre, aconteceu

Que, num burrinho pela areia fora,

Fugiu

Daquelas mãos de sangue um pequenito

Que o vivo sol da vida acarinhou;

E bastou

Esse palmo de sonho

Para encher este mundo de alegria;

Para crescer, ser Deus;

E meter no inferno o tal das tranças,

Só porque ele não gostava de crianças.

 

(Miguel Torga)

A todos os alunos do "12" desejo um óptimo Natal, umas grandes "entradas" e um novo ano "para lá de" FENOMENAL!!!!

sinto-me:
reflexo de turma 12º 12 às 21:17

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Terça-feira, 5 de Dezembro de 2006

Parvos

  

Parvos

 

Parvos... Definam-me um parvo... De acordo com o dicionário de Língua Portuguesa, um parvo é: "Adjectivo: apoucado de inteligência; idiota; pateta; párvulo; párvuo; pequeno; Substantivo Masculino: individuo atomeilado. ( Do Latim parvu e parvulu)."

Meus amigos, isto, não é de maneira nenhuma, um parvo. Sabem quem é parvo? O autor do dicionário. A editora do dicionário. Já agora o dicionário em si. E agora que falamos nisso, todo o dicionário existente. E todas as enciclopédias e almanaques e manuais e boletins de instruções e todas as coisas que queiram de alguma maneira ensinar aos outros que eles são parvos.

Sabem o que vos digo? Os niilistas? Parvos deprimidos. Os classicistas? Parvos de regras. Os românticos? Parvos egocêntricos. Os realistas? Parvos que pensam que são intelectuais. Os surrealistas? Intelectuais que pensam que são parvos! Mas não o são! Nenhum deles é parvo! São parvos, sem o serem!

Quem é que sabe tudo sem saber nada? Esse sim é o Parvo! O despreocupado! O desenrascado! O não-definido! Mas este não é parvo como os outros. Este sabe que é parvo, não esconde que é parvo e não muda a parvoíce! O parvo é quem se ri dos parvos! O parvo é aquele que anda sempre com um sorriso desabrochando no canto da boca, com os olhos arregalados, com uma espontaneidade sublime, que simplesmente vive como se de um segredo secular tivesse conhecimento! ... Pois deixem-me que vos diga: O parvo! ... De parvo não tem nada.

O parvo não sabe, o parvo não especula, o parvo não finge, o parvo não peca, o parvo é parvo, o parvo faz parvoíces porque é parvo e está desculpado! Porquê? Porque é parvo, certamente.

Quem aqui é que já disse "Olha-me aquele. Parece parvo."? Sabem o que vos digo? Foram parvos em dizerem isso. Quantos já o disseram e irão muitas mais dizer? Quantos? Não se escondam agora. Se antes demonstravam isso - Não! se antes declaravam, afirmavam, imprimiam, caluniavam e difamavam ( esquecendo qual destas duas  por escrito é ) porque hão-de se calar agora que alguém vos repreende? Continuem a chamar ao parvo de parvo! Sabem porquê? Porque ele , ao contrário de certos outros, admite que é parvo, e usa a sua coroa feita de verborreia gramática e sintáctica e morfológica, alto na sua cabeça... "Levanta-a como um facho a arder na noite escura...." como outrora um poeta disse e ele declama “parvóticamente”: "EU SOU PARVO!"

Só um parvo pode realmente ver as engrenagens enferrujadas deste mundo. Só ele pode chorar e rir com a sua tragédia repleta de solidão. Só ele se desprende de arrogâncias e pretensões e egocentrismos e intelectualismos e funções e definições e conjugações e declinações e justaposições e ilusões e aglutinações e dilacerações e prontidões e conspirações e multidões e preocupações e depressões e mais inúmeras palavras acabadas com "ões", eteceterações...

Um parvo está sozinho no mundo devido á sua lucidez... Á sua inconsciência... Ao seu ócio... Provincianismo... Á sua felicidade.

Mas eu oiço-vos ( ou ouviria fora eu presente quando aqui se encontram ) ... Mas oiço-vos e vocês perguntam: "Mas um parvo... Não vive numa ilusão?" Certamente. Ah pois, certamente que sim. Vive delusionado. Alienado. Renegado. Rejeitado. Mas ao menos vive feliz. E deixem-me que vos pergunte (ou perguntaria fora eu presente quando aqui se encontram ) ... Vocemecês... São felizes? São capazes de sorrir a uma criança sem terem uma neurose freudiana? São capazes de brincar com um cão sem se questionarem da higiene? São capazes de chegarem atrasados a qualquer evento stressante por terem parado subitamente para observar este maravilhoso e belo mundo? Este mundo cheio de vida a qualquer brisa, este mundo cheio de paixão, em que homens voam mais alto que o possível, em que os nossos sonhos se tornam realidades como se sujeitos ao brilho de fadas e toda essa cornucópia de seres imaginários mas mais palpáveis que qualquer filosofia que me vocês me possam vender, conseguem vocês viver e deixarem viver, amar por amar e nunca morrer, nunca se deixarem desesperar, sentirem o sangue a ferver, quererem viver todo o momento que tem neste paraíso de uma forma tão magnifica, tão exuberante, tão majestosa, de uma forma tão bela, tão indescritível…Um segredo secular esconde-se e só o parvo se apercebe-se dele! Não se apercebem quão insensíveis e cegos se tornaram! Essas vossas filosofias, esses vossos ensinos, essas vossas mascaras frias e cínicas, essas supostas sociedades e civilizações que vos trazem inúmeras misérias, as vossas mentes mesquinhas! Não se apercebem que dentro de todos os homens existe uma Centelha Divina de Deus!

Existe uma esperança para um mundo melhor onde todo este sofrimento e tormentos que se queixam desaparecem! Estão presos dentro de vocês próprios! Não se submetam á vontade sádica de cultos e homens maníacos, não se deixem quebrar pelos confrontos de egos, histórias e pretextos! Oiçam as fábulas e a música! Obedeçam ao favor do vento e da brisa que vos recita toda a literatura que necessitam! Rejeitem o vosso lado humano e sejam homens e mulheres e crianças! Oiçam o segredo secular há muito escondido neste belo mundo feito de inúmeras cores, um quadro de um sentimento superior! O Amor! Isso que vos junte! O Amor que se vê na natureza, nos riachos e na harmonia, nos montes e nos céus, nos mares e desertos! Esqueçam o medo e as paranóias e deixem que o vosso Amor – o Amor por tudo o que é bom – o Amor que vos una! A Centelha Divina em cada um de vós!

Mas divago… Divago-me em vocês que não me ouvem… Quando devia estar a falar de parvos.

Um ultimo pedido: O parvo vive. Só não vive quando não o deixam viver. Até um parvo sabe disso. Mas é isso que vocês fazem… seus parvos.

                Ainda preciso de assinar? David João Mania de Intelectual
música: O discurso do Grande Ditador - Charlie Chaplin
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