Sábado, 28 de Outubro de 2006

O Tempo

 

        Camaleónico inimigo, escapando como areia entre os dedos, horizonte inalcançável, furacão que arrasa tudo no seu caminho.

O tempo! Ninguém doma o tempo. Ninguém consegue pará-lo, pô-lo dentro de uma caixa de madeira envernizada, brilhando como os nossos olhos iludidos com esta visão. Ninguém consegue sequer pedir-lhe que volte atrás porque isso está para além dele próprio.

         Sim, porque não bastava que o tempo voltasse atrás. Mesmo que ele o fizesse, o chão não teria o mesmo cinzento, o céu não teria o mesmo azul e o brilho dos nossos olhos jamais seria o mesmo. Só o tempo seria igual, o mesmo ano, dia e até hora, mas mentalidades diferentes e emoções distintas, de quem vive algo pela segunda vez. Porque ninguém se surpreende duas vezes com o mesmo acontecimento.

         Certamente, o tempo é oriundo das profundezas do Inferno. De outro modo, porque razão nunca é amigável, prestável? Afinal porque razão o presente passa tão rápido e o futuro nunca mais chega? Não é maquiavélico?

         Mal acabo de proferir uma única palavra e esta já pertence ao passado, só para não me dar oportunidade de voltar atrás para a mudar, porque o passado não se altera.

         Mas se temos um objectivo futuro, então sim, o presente dura e dura… 

         O tempo diverte-se ao “trocar-nos as voltas” e ri-se sádico da nossa confusão. Portanto, só temos duas alternativas: ou desistimos e deixamos que o tempo nos arraste, mefistofélico (porque o tempo não pára mesmo que nós o façamos), ou surfamo-lo sobre as ondas da vida, mesmo sendo o tempo quem direcciona a nossa prancha.

Sílvia Marôco

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reflexo de turma 12º 12 às 19:26

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Sábado, 21 de Outubro de 2006

Crescendo

   
   Do bailar da noite nasce vão, verde na escuridão.
   E a noite cresce na direcção das estrelas radiantes de desejo, de cores purpurinas. Capaz de sentir a altura e as vertigens e a carícia surpreendente das “veludas” nuvens, obscurecendo, do estame ao núcleo, a fragilizada criação…
   Vem o azul afogado, seguido do mesclado de crepúsculo; o rosa corado de elogio; o laranja ambição; aquele púrpura desvanecido tão sublime; o vermelho fervente e o amarelo que deu cor ao rebento. O demais à volta deste espectáculo eram nuvens que sustentam luzes angelicais e o maravilhoso som de harpa vindo dos campos de linho, e o sopro de flauta muda a dirigir o coro dos campos secos de trigo.
   E virá acordar, assim, o dia, o rebento que nasceu do sopro do coração.
  Vem espalhar a brisa matinal, o despertar solar e prosperou num fascínio incontrolável. O primeiro raio de sol a atingir a pétala da linda flor, nascida do palco da noite, fez evaporar o orvalho e incendiou o amarelo da sua corola. Júbilo foi o que a fez ferver. Como uma criança, seguiu o calor e a luz para todo o lado, até que o doce crepúsculo secou o seu pedaço de terra.
   Cá está o belíssimo espectáculo de embalar; reparador, constrói a ânsia obcecada.
   Sol! Pura obsessão.
   Amoroso! que funesto o brilho que te beija, o perfume que irradia em ti o desejo…
   E desce do céu um corpo longo, estreito e recortado, com asas roídas, e desfaz-se. A bela rosa negra desfolha-se e à luz do perpétuo luar, drapeja no ar, pela corrente prisioneira, poisa sobre a inocência virgem e junta-se a esta terra de agonia. Do luto do amor, formam-se ramificações espinhosas de rendição, prendendo-o assim à noite pesada e fria.

   04/10/06.
   Gonçalo Julião.

música: the happy valley - violino
reflexo de turma 12º 12 às 17:38

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Sexta-feira, 20 de Outubro de 2006

Diário de alguém que não tem mais nada que fazer


63 de Junho do Inverno de 1838 ou de 3256, mas nunca de 2006!


   Hoje faço anos ou então não. Pensando melhor, acho que o meu aniversário é amanhã!
      Chamo-me Pedro, mas não entendo porque é que me chamam Jorge. Talvez porque soa melhor ou porque realmente me chamo Jorge e Pedro é simplesmente o nome que eu gostaria de ter. Sei lá! Existem tantas coisas que eu gostaria de ter! Como, por exemplo, não me importava de ter uma enorme casa com sessenta e três quartos, doze casas de banho, sete salas de estar, cinco cozinhas e um jardim de dois milhões, novecentos e noventa e nove mil, trezentos e oitenta e nove quilómetros quadrados, com nove piscinas e oito campos desportivos.
     De qualquer das maneiras acho que, por agora, contento-me com um gelado com sabor a natas e com uma caneca de leite com chocolate quente, já que está um calor do caraças e eu estou com frio!
    Estive a contar e verifiquei que, no parágrafo anterior, utilizei o vocábulo “com” quatro vezes numa mesma oração. Notei que a palavra causou um efeito bastante repetitivo na frase, tal e qual como os meus dias, repetitivos.
    A verdade é que eu passo os meus dias sempre da mesma forma: levanto-me e vou para escola. Depois das aulas, tenho treinos de futebol. Chego a casa, tomo banho, janto e vou para a cama. T.P.C.? Nunca faço! Sou demasiado inteligente para eles! Nem sequer oferecem quaisquer dificuldades, são somente desafios para pessoas burras. De vez em quando lá recebo uma carta da Horácia (que, por acaso, não possui qualquer existência neste mundo, pelo menos, no meu não! É mais um pormenor que achei engraçado acrescentar neste meu diário).
    É verdade! Há uns minutos atrás, consultei o dicionário e vi que “com” é uma preposição que “indica várias relações, como: companhia, instrumento, ligação (…)”
       Por falar em companhia, eu bem que preciso duma e, de preferência, boa! Se calhar uma namorada… é melhor não, dá muito trabalho!
    Preciso de algo diferente, único, emocionante. Preciso de um “sundae natura” e de umas batatas fritas! Ninguém percebe porque é que eu combino estes dois “ingredientes”. Passo a explicar: esta combinação é diferente, única e emocionante porque é raro alguém lembrar-se de comer “sundae” com batatas fritas! É um “fenómeno”!
      Meu Deus, já chega de disparates! Apesar de gostar de “sundae” com batatas fritas, não será isso que vai animar esta minha vida secante!
       Bem, já me fartei de escrever! Vou reler as minhas palavras…
      Imagino que quem ler esta primeira página do meu “querido diário” vá achar totalmente ridículo e patético o que escrevi! Eu também o acho! Doido é quem não achar! Mas, mesmo assim, é suposto isto ser um diário, logo, ninguém o vai ler. Certo? Errado! Alguém já o está a fazer…
    Mas eu avisei! O título é mais que um aviso! Este é um diário de alguém que não tem mais nada que fazer… como eu!

 

Assinado: Pedro… desculpa, Jorge.

 
     P.S.: encaro o que escrevi como uma sessão de terapia porque me encontrava confuso e, depois de ter escrito essas maluquices todas, sinto-me melhor. Não sei porquê, provavelmente é o poder da escrita…

  
Com os mais belos e sinceros cumprimentos (ou então não =P), D-FuriKuri

 

sinto-me:
reflexo de turma 12º 12 às 19:36

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Uma Vida de Duche

   Lembram-se daquele momento, hoje de manhã, quando estão a tomar o duche? Aquele momento em que sentem a água a escorrer pelas vossas costas e pensam como teria sido bom ter ficado na cama? Lembram-se desse momento?
   Hoje adormeci no chuveiro. Meia hora mais tarde e uns quantos molares a menos, acordei com a minha cabeça ensanguetada no piáça e continuava com o sentimento. Vivi com ele toda a minha vida, e verdade seja dita, sabemos que o sentimento nunca irá desaparecer, por mais que nos digam o contrário.
   A verdade é que a minha vida, e a vida de todas as pessoas em geral, perde o sabor aos dez anos. Depois disso torna-se numa pastilha elástica velha e desgastada que irá parar no sapato roto de alguém. Depois dos dez, já não temos aquela sensação de segurança no dia a seguir da Véspera de Natal ( ou seja, o dia de Natal). Depois dos dez, já não temos casa. Nem família. Nem auxílio. Só esperança. Esperança que nos tirem deste filme francês que é a nossa vida e nos ponham num "blockbuster" com a Marylin Monroe. Ou a Monica Belluci. Tanto faz.
A partir dos dez é que me apercebi que não ia ser o John Lennon. Percebi que não ia ser nem Einstein, nem Picasso. Só havia uma solução.
   Agarrei-me ao que pude de forma a construir uma vida. Desisti da fama, do dinheiro, do amor e dos sonhos. Só uma vida. Só um leitor de DVD's. Só uma televisão Sony com sound surround, cinema em casa, alta definição, reprodução videocassete, sofá em cabedal, conjunto casa-de-banho moderna "Crystal" com retrete de porcelana chinesa.
   Mas de nada me valeu a pena. Já há algum tempo que me passaram os dez e ainda continuo com o sentimento de querer estar na cama, quentinho, protegido da realidade, a dormir. Pois nos sonhos encontro-me a mim próprio. Não um "eu" com vida e leitor portátil de CD's e MP3's. Encontro-me com o miúdo de dez anos. Encontro o Paul, o George, o John, o narigudo do Ringo. Encontro uma mãe, encontro um Buda, encontro uma morsa e encontro um pai.
   E acordo para a vida. E para descobrir algo. Algo de que sempre me apercebi, mas tentei ignorar, enquanto percorria as noites enevoadas e solitárias. De como tentei, a partir dos meus dez, controlar a vida. Tentei agarrar-me de tal forma à esperança de ter uma vida minimamente apresentável que esqueci que eu nunca quis uma vida minimamente apresentável. Quis a minha vida. A vida que não pode ser controlada, nem enjaulada ou guiada. A vida que se encontra na nossa cama, antes de tomar o duche. Encontrei a minha vida, os meus sonhos e os meus deuses. Encontrei-me a mim.
 
     David João Filipe
reflexo de turma 12º 12 às 15:43

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Irritante!

   Sabes? Às vezes irrita-me!                       

   Impacientam - me aqueles indivíduos que fazem perguntas apoucados de inteligência, em que as respostas são tão óbvias.

   Nunca te aconteceu encontrares alguém conhecido na rua e essa pessoa perguntar: « Estás aqui?!?»?

   Nunca te aconteceu chegares a casa e perguntarem-te se já chegaste? Só apetece responder: « Não, ainda estou na escola!».

   E ainda há pior!

   Quando estás deitada de olhos fechados e vem alguém e chama-te... Tu respondes «hã?». E depois vem logo a temida pergunta: « Estás a dormir?».

   Não sei se este tipo de perguntas te irrita. A mim irrita-me, mas eu admito que muitas vezes eu própria as faço, não com intenção, mas porque acontece...

     Mónica Pereira

  

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reflexo de turma 12º 12 às 15:21

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